quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aniversário da radioastronomia

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Há exatos 76 anos o New York Times publicou um artigo que, mesmo que seus editores e leitores não soubessem, anunciaria uma profunda revolução na ciência.

O artigo que saiu na edição de 5 de maio do NYT anunciava que o físico americano Karl Guthe Jansky (1905-1950) havia detectado emissão de rádio proveniente do centro da Galáxia.

Inicialmente Jansky interpretou que a emissão viesse do Sol, mas, logo em seguida, se deu conta de que a fonte não era essa.

A história toda, neste caso, começa com a saúde frágil de Jansky, que havia recebido de seu médico recomendações para trabalhar no campo, evitando a poluição e estresse urbanos.

Jansky fazia pesquisas para o Bell Laboratories, quando identificou a emissão rádio do núcleo da Via Láctea.

Esse “tagarelar” de estrelas, como foi referido pela mídia, fez algum sucesso em programas de rádio, mas a Segunda Guerra Mundial, que começaria em breve, fez com que tudo fosse rapidamente esquecido.

A não ser por um radioamador que se envolveu profundamente com o assunto: Grote Reber.
Em 1936 Reber construiu o primeiro radiotelescópio da história, com antena parabólica de 9,5 metros de diâmetro, no quintal de sua casa.

Reber alimentou a fantasia de seus vizinhos que, inicialmente, interpretaram o radiotelescópio como “uma máquina para fazer chover”. Isso porque uma determinada quantidade de água de chuva ficara retida no prato da antena, num determinado dia.

E, depois, como arma para derrubada de aviões (acidentalmente, um avião se acidentou nas proximidades).

Ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial Reber foi o único radioastrônomo de todo o mundo.
Mas, quando a guerra terminou, a situação mudou radicalmente.

O radar, que pode ter sido decisivo na derrota de Hitler, teve suas técnicas de apontamento acopladas a radiotelescópio e isso deu origem à radioastronomia.

O que se descobriu em seguida foram quasares (as fontes mais energéticas do Universo e muito distantes no espaço-tempo) pulsares (restos de estrelas explodidas sob a forma de supernovas) e, em meados dos anos 60, a radiação cósmica de fundo em microondas (RCF).

Foram todas descobertas importantes, mas a RCF deu consistência observacional à teoria do Big Bang, hipótese de que o Universo nasceu de uma explosão primordial. Essa idéia começou com o cosmólogo belga George Lemaître, por volta de 1916 e foi ampliada por astrofísicos como o russo naturalizado americano Georg Gamow.

Fundamentalmente, a idéia proposta por Gamow e outros defensores dessa idéia é que a fogueira cósmica que marcou a origem do Universo havia deixado um remanescente térmico. Algo parecido a uma fogueira junina que, no ápice, representaria o nascimento do Cosmos, enquanto as cinzas da manhã seguinte remeteriam à RCF.

A RCF foi detectada de forma acidental (os historiadores da ciência costumam se referir a ocorrências desse tipo com a expressão “serendipidade”).

Arno Penzias e Robert Wilson, que também trabalhavam para o Bell Laboratories quando identificaram um sinal que vinha de qualquer direção para onde apontavam o telescópio que utilizavam para identificar “parasitas” que interferiam nas telecomunicações.

Um grupo que trabalhava por perto deles, na tentativa de localizar o remanescente térmico da explosão primordial, acidentalmente, (outra vez a serendipidade) ficou sabendo do misterioso sinal de Penzias/Wilson e literalmente “matou a charada”.

Penzias e Wilson receberam o Nobel por isso, mas confessaram que só se deram conta do que haviam encontrado quando leram a interpretação dos cosmólogos nas páginas do mesmo NYT, em 1964.

Hoje a radiação cósmica de fundo é esmiuçada em busca de pistas sobre não apenas o nascimento, mas também a evolução do Universo.

A radioastronomia ampliou radicalmente as possibilidades da astronomia convencional, então restrita ao espectro da luz visível.

No estágio em que nos encontramos neste momento, com perspectiva de se identificar o “chamado” de uma eventual outra (s) civilização (ões) no Universo, a radioastronomia é uma espécie de telegrafia cósmica.

Até agora, no entanto, nenhuma mensagem inteligente chegou das estrelas.

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