sábado, 9 de maio de 2009

Tateando no escuro


(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) O Telescópio Espacial Hubble é o instrumento científico mais popular de todos os tempos no campo da astronomia. Disso não resta a menor dúvida. E, agora que ele está para receber uma visita de reparos, virou o centro das atenções.

Pode parecer pouco, mas cada missão de manutenção como essa (e já foram quatro) é um marco importante. A rigor, todo instrumento lançado ao espaço fica lançado à sua própria sorte. Se um equipamento falhar, ou mesmo pifar, pode esquecer. Não tem assistência técnica para esses casos, mesmo que o instrumento esteja na garantia. O máximo que dá para fazer é uma atualização de “software” que consiga dar um jeitinho na operação do instrumento. Mas se quebrar mesmo…

O Hubble vai receber sua quinta e última missão de reparos, a qual, se tudo correr bem com o clima da Flórida, deve começar nesta segunda, dia 11. Entre outras coisas, o Hubble deve sofrer uma troca de baterias (a primeira em 19 anos!) e terá um novo instrumento instalado. Ele é chamado de Espectrógrafo das Origens Cósmicas (COS, em inglês) e custou à Universidade do Colorado uns 70 milhões de dólares. Esse instrumento já deveria estar à bordo do Hubble desde 2004, mas sucessivos atrasos, por causa do acidente que destruiu o ônibus espacial Columbia, impediram que ele fosse instalado antes. Aliás, esse acidente quase cancelou esta última missão de manutenção.

O objetivo do espectrógrafo é estudar a luz ultravioleta emitida por quasares muito distantes. A idéia é obter informações sobre a composição química do Universo quando ele era muito jovem e sobre como essa química evoluiu ao longo dos tempos. Esse será o instrumento instalado no Hubble mais sensível a operar no ultravioleta e com ele será possível também estudar a luz das primeiras estrelas formadas no Universo.

Falando nisso, quando o Hubble foi concebido, um de seus objetivos centrais era determinar o valor da taxa de expansão do universo. Quando Einstein descreveu matematicamente o Cosmos, ele inseriu uma constante que mantinha o Universo estático. Em outras palavras, era como uma força de repulsão interna que sustentava o Universo e o impedia de colapsar por força da própria gravidade. Mas, em 1923, Edwin Hubble descobriu que as galáxias estavam na verdade se afastando umas das outras, e a partir de então os astrônomos passaram a correr atrás do valor dessa taxa de expansão. Sabendo-se o valor da taxa, dá para deduzir a idade do Universo.

Determinar a taxa, chamada de constante de Hubble, é um dos “projetos-chave” que justificaram a construção, lançamento e manutenção do telescópio espacial. Na época de seu lançamento na década de 1990, o valor da constante tinha uma incerteza de 100%: os valores aceitos eram 75 ou 150 km/s a cada megaparsec (uma unidade de distância apropriada para o estudo do Universo).

Nesta semana saiu o novo valor dessa constante: 74,8 km/s por megaparsec, mas com uma incerteza muito menor, de pouco mais que 5%. Esse estudo foi efetuado com o uso de duas câmeras, a que opera no infravermelho (NICMOS) e no visível (ACS). Com esse valor é possível se estimar a idade do Universo simplesmente calculando o inverso da constante, e isso dá 13,1 bilhões de anos. O valor, obtido através do estudo de estrelas Cefeidas em galáxias distantes, é apenas 5% menor que o valor obtido através do estudo da radiação cósmica de fundo pelo satélite WMAP.

Mais do que obter uma idade do Universo cada vez mais precisa, o valor da constante de Hubble fornece pistas sobre a misteriosa energia escura que domina o Cosmos. É ela que faz com que o Universo hoje esteja em expansão acelerada.

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