quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Uma breve história do universo


(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) O universo começou parado. Assim, em sua teoria da relatividade geral, Albert Einstein introduziu nas equações uma constante, chamada de constante cosmológica, para que o universo permanecesse estático. Tudo baseado nas evidências observacionais da época, década de 1910, Einstein mesmo não se sentiu muito confortável com isso, pois as equações mostravam, naturalmente, um universo em expansão. Na década seguinte, começaram a aparecer as primeiras evidências observacionais de que o universo não seria estático. Observações de galáxias feitas por Edwin Hubble mostraram que todas elas estavam em movimento organizado, todas elas se afastando uma das outras, como se estivessem sobre um balão sendo inflado.

Einstein revisou suas equações, retirando a tal constante e afirmando que ela teria sido a maior bobagem que ele já tinha feito. A partir de então, a interpretação dessas equações, bem complicadas por sinal, nos levava a crer que o universo começou com uma singularidade, onde toda a matéria do universo estava concentrada e subitamente começou uma rápida expansão. Esse seria o Big Bang, ou grande explosão. Esse termo foi cunhado por Fred Hoyle, um defensor da teoria do universo estático, muito mais em tom de crítica, do que para ser muito claro. Isso causa uma grande confusão na hora de entender a física do processo. Não houve uma grande explosão, não há um centro do qual tudo parece se afastar, não havia antes e não há nada "fora" do universo. Mas isso é assunto para outra hora.

Desde então, os astrônomos vinham tentando medir a velocidade de expansão do universo e tentando saber que tipo de destino o universo teria: se a expansão seria eterna ou não, mas em todos os casos seria uma expansão desacelerada.

Mas eis que, em meados de 1990, usando supernovas para estudar a expansão do universo, Saul Perlmutter e uma equipe de colaboradores descobrem que o universo está na verdade em expansão acelerada! Uma descoberta tão fantástica e tão inesperada, que rendeu o prêmio Nobel de física de 2011.

Até hoje não há explicação para essa expansão acelerada. Foi aí que se criou o termo energia escura, que deve permear 72% do universo e que ninguém sabe o que é! Muitas teorias tentam explicar essa componente do universo, que forma quase três quartos dele, mas até agora nada muito plausível.

Do ponto de vista observacional, uma colaboração internacional entre EUA, Japão, Canadá, Espanha e Brasil acaba de anunciar alguns resultados na tentativa de compreender melhor essa estranha forma de energia que está acelerando o universo.

O projeto de Busca Espectroscópica de Oscilações Acústicas de Bárions (BOSS, em inglês) se utiliza dos espectros de galáxias obtidos por outro projeto, o SDSS, e tem como objetivo estudar o universo em três fases distintas. Uma muito inicial, quando a gravidade predominava sobre a energia escura e o universo era desacelerado. Outra intermediária, quando gravidade e energia escura meio que se equilibravam. E uma terceira mais recente, quando a energia escura começou a dominar, e o universo passou a ser acelerado.

Para obter informações do universo quando ele ainda era muito jovem, a equipe do BOSS utilizou espectros de mais de 48 mil quasares (núcleos muito brilhantes de galáxias muito distantes), e os astrônomos conseguiram evidenciar a tal da oscilação procurada. Isso foi possível observando a luz dos quasares tão distantes quanto 11,5 bilhões de anos-luz, que sendo parcialmente absorvida por nuvens de gás pelo caminho. A oscilação acústica de bárions é, na verdade, a variação periódica na distribuição das galáxias e nas nuvens de gás intergaláctico (a matéria visível, ou bariônica), que revelam a distribuição de matéria escura.

Ao que parece, a transição entre um universo dominado pela gravidade para um dominado pela energia escura ocorreu há uns 7-8 bilhões de anos atrás. Com esses resultados, a equipe do BOSS pretende caracterizar o universo quando ainda era dominado pela gravidade e se comportava como se esperava antes da descoberta da energia escura, segundo Márcio Maia, astrônomo brasileiro que participa do projeto.

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