terça-feira, 2 de abril de 2013

O mapa da matéria



(Teoria de Tudo - Folha) NO MATERIAL QUE publicamos sobre o novo mapeamento do Universo primordial, feito pelo satélite Planck, tivemos de deixar de fora algumas informações novas. O cosmo, afinal, é mesmo grande demais para caber numa folha de jornal. Destaco aqui acima, então, uma das imagens excluídas da reportagem de hoje: o mapa da distribuição de matéria no Universo.

“É uma imagem belíssima, estonteante”, disse ontem Martin White, cientista do projeto que concedeu uma entrevista coletiva a jornalistas em Washington. A declaração causou um certo constrangimento entre leigos, pois a beleza, claro, está nos olhos de quem vê. Para mim, parece um pedaço de tecido jeans desbotado, com uma triha de sujeira no meio. Mas façamos um pouco mais de esforço para enxergar a beleza da figura.

Este mapa do cosmo é diferente do mapa que saiu na reportagem de hoje, que se refere à distribuição de temperatura do universo primordial. O mapa da matéria inclui tanto a matéria bariônica (a matéria comum da qual estrelas, planetas e pessoas são feitos) quanto a matéria escura (uma entidade misteriosa cuja natureza ainda é desconhecida). É um mapa da variação na quantidade de matéria que existe em todo o céu, indo daqui até o limite do Universo visível, em todas as direções.

Fazer o mapeamento requer um truque bastante engenhoso, porque a matéria escura, como seu próprio nome diz, não é visível. Astrônomos só conseguem inferir sua existência por causa da atração que ela exerce sobre a matéria comum. E fazer um mapeamento da massa do Universo sem incluir a matéria escura seria algo meio sem sentido, já que ela representa 84.5% de toda a massa do universo.

Os físicos usaram então uma técnica batizada de “lente gravitacional”, para fazer o mapeamento. Ela consiste em analisar os desvios que a luz sofre quando passa perto de regiões onde há muita massa, e depois remapear a direção de emissão dessa luz. O Planck fez isso com a radiação cósmica de fundo (a luz mais primordial que permeia o universo) e conseguiu obter o mapa acima, onde as partes com mais matéria aparecem branqueadas.

O efeito é extremamente sutil, e anteriormente esse tipo de mapeamento havia sido feito apenas para partes do Universo. O Planck conseguiu fazer a melhor determinação desse efeito até agora para todas as direções do céu, não apenas parte delas. (A única exceção é para a trilha cinza que corta a imagem na horizontal. São as regiões onde o brilho da Via Láctea, nossa galáxia, impede o Planck de enxergar mais longe.)

“A imagem, então, não é apenas bonita”, disse White. “As nossas teorias sobre como as estrelas e galáxias se formam fazem uma previsão sobre como essa imagem deveria se parecer, e quando comparamos a previsão com essa imagem, elas se encaixam de modo espetacular.”

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