segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O universo é infinito hoje?

(Teoria de Tudo - Folha) ALGUMAS SEMANAS ATRÁS, passeando com um amigo por um museu de ciência, fui pego meio de surpresa por algumas de suas perguntas: “O universo é infinito?” “Se é infinito, como pode estar se expandindo?” “O universo é eterno?” “O que existia antes do Big Bang, então?”

Fiquei meio sem ter o que dizer na hora. No campo da cosmologia, novas tentativas de respostas para essas perguntas estão pipocando a todo momento, e me dei conta de que eu precisava de uma reciclagem.

Buscando literstura recente, descobri que o físico teórico Paul Halpern, da Universidade das Ciências da Filadélfia, tinha publicado um livro novo sobre o assunto. Me pareceu um boa fonte de informação para saber quais teorias cosmológicas estão “no mercado” agora, e como anda a “cotação” de cada uma delas.

Pois é. Ainda não existem respostas 100% consensuais para todas essas perguntas.

Halpern é autor de vários livros de ciência para leigos em física, e já trabalhou com cosmologia dentro de um campo que tenta atualizar a teoria da Relatividade Geral de Einstein, postulando a existência de um número maior de dimensões espaciais. Apesar de ter algumas “apostas” pessoais na área, porém, fez um trabalho bastante honesto ao descrever o atual panorama da cosmologia, listando pontos fortes e fracos de cada teoria.

O estado dessa ciência está delineado em seu último livro, “Edge Of The Universe: A Voyage To The Cosmic Horizon And Beyond” (A borda do universo: uma viagem para o horizonte cósmico e além). Vamos ao que interessa, então.

Para alívio daqueles que se incomodam com a idéia de um universo finito, o cosmo ainda é considerado uma entidade sem fim, apesar de existir um limite físico para o quão longe podemos enxergar (46 bilhões de anos luz, a quem interessar). Niguém sabe ao certo como é o cosmo além dessa distância, mas a maioria dos cosmólogos considera que faz sentido acreditar que existe algo além.

Mas como algo “sem tamanho” pode crescer? A resposta para isso é um pouco mais complicada. Os cosmólogos ainda pensam no Big Bang como um explosão “de” espaço, e nao numa explosão ocorrendo “no” espaço. Isso se manifesta no fato de que o universo cresce, e as galáxias se afastam umas das outras, mas sem que haja um centro específico a partir do qual esse movimento ocorre.

Essas idéias sobre o tamanho do cosmo ainda são basicamente as mesmas de umas cinco décadas atrás, mas a teorias sobre se o Universo vai acabar (e como), tiveram suas cotaçoes radicalmente alteradas nos últimos 15 anos, após a descoberta da chamada energia escura.

Essa é a misteriosa força que atua como uma espécie de antigravidadade e faz com que a expansão do universo se acelere, em vez de arrefecer. Antes de 1998, ainda se considerava a possibilidade de o crescimento do cosmo um dia se reverter e dar início a um processo de contração, apelidado de Big Crunch, um grande colapso. A energia escura porém, torna mais provável que o universo acabe num Big Chill, um processo de resfriamento que desmontaria todas as galáxias, planetas, pessoas, átomos e, talvez, até o próprio espaço em si.

Físicos ainda não sabem dizer, porém, o que é a energia escura. Outra entidade misteriosa, a matéria escura, cuja gravidade rege o movimento das galáxias, também desafia tentativas de explicação. E enquanto cientistas esperavam uma luz no fim do túnel, mais um mistério surgiu: o fluxo escuro, uma força que leva algumas galáxias a se moverem em certa direção no espaço, somando-se à expansão do cosmo. Recentes descobertas também apontam a existência de enormes regiões vazias no cosmo, algo que não é muito comum, já que o restante da matéria está distribuído de maneira mais ou menos uniforme.

O fluxo escuro, especulam algus cosmólogos, pode ser fruto da interação de nosso cosmo com algum universo paralelo. Teorias sobre a existência de universos múltiplos (dentro de uma realidade com mais dimensões) têm surgido quase que diariamente na última década. Elas oferecem o conforto filosófico de que um eventual fim de nosso universo não seja, literalmente, o fim dos tempos. Algumas dessas teorias sobre “multiversos”, surprendentemente, oferecem até previsões para que possam ser testadas. Mas os efeitos de realidades paralelas sobre a nossa realidade seriam, invariavelmente, indiretos.

Halpern reconhece os problemas da cosmologia atual. “A fronteira entre a ciência e a especulação certamente parece estar sofrendo uma erosão a medida que mais hipóteses de longo alcance, mas difíceis de testar, são oferecidas”, escreve. Os mistérios da matéria escura, da energia escura e do fluxo escuro, porém, podem ser a rota para sair desse labirinto teórico, diz o físico. “Talvez precisemos pressionar nossa imaginação até seus próprios limites para explicar as novas descobertas bizarras em cosmologia.”

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