"Sem dúvida alguma a ciência avançou muito. Abrimos a porta de entrada de um local nunca antes visitado"
(Alberto Santoro - JC) No dia 30 de marco de 2010 a ciência começou uma nova era: a caminhada para a escala de energia dos 14 TeV. Foi um dia longo e cheio de emoções fortes. Sentimos como se estivéssemos num daqueles dias em que o Brasil disputava uma final de Copa do Mundo. Todos aplaudiam ao ver na tela de transmissão a tão esperada colisão a 7 TeV no momento exato em que o primeiro evento apareceu.
Nunca o homem havia alcançado essas energias. Horas depois, ouviam-se de todos os lados elogios e recebíamos e-mails emocionados dos colegas dizendo o que já estavam vendo.
Este início é de extrema importância para o que se segue. É o momento de começar a construir as amostras de dados que vão nos dar os artigos científicos que levarão a público os resultados desse gigantesco experimento.
Gritei dentro de mim: "Viva o Brasil que está nessa". Foi muito bom. Esquecemos todas as nossas carências e simplesmente comemoramos.
O período que se segue agora, ainda por algumas semanas, é de constatação de que tudo está funcionando como deve e, mais adiante, se estamos observando toda a física já conhecida de outros experimentos. Se todas as componentes do experimento estão funcionando como esperado, se os programas de computadores estão respondendo aos requisitos das partículas que agora se manifestam como objetos reais.
Isto tudo vai constituir a base para as novas descobertas. São delas que alimentamos esperanças de conhecer melhor essa natureza tão fantástica e tão cheia de mistérios. E, francamente, é grande o nosso privilégio de estar participando desta aventura.
De um modo geral, tem se falado na expectativa de se "recriar" o Big Bang. O "Bang" de 7 TeV está muito longe destas configurações. A região de trabalho para a qual podemos obter informações está em aproximadamente 10-20 segundos e não a 10-43 segundos, quando teria acontecido a grande explosão. (A única? A última? A primeira?...).
Uma pessoa me telefonou do Brasil e perguntou: "professor, como é a vida depois de ter recriado o Universo?". Comecei a olhar para todos os lados e respondi: "onde aconteceu isto?".
Eu sei ao que esta senhora está se referindo. Isto é criado pela mídia e não por nós. Sim, alguns físicos falam disto, mas é somente bonito, poético, interessante, e mostra a vontade que cada um tem de ir além de seu próprio mundo. A vontade do homem de dominar o que acontece nesse esplêndido universo de surpresas. E ainda bem que não são poucas.
Saímos para comemorar, mas o assunto não mudou. Você viu aquele traço? Será que...? Uma excitação sem igual. Um dia apropriado para fazer amor regrado de otimismo e prazer.
Sem dúvida alguma a ciência avançou muito. Abrimos a porta de entrada de um local nunca antes visitado. Começamos a calcular sem parar quantos eventos vamos precisar para o [bóson] Higgs. Um outro dizia, precisamos aumentar a luminosidade. A luminosidade é a quantidade de partículas por pacote. Um feixe é como um colar de contas separadas ligeiramente por um fio. Ou como um terço de oração. As contas representariam os pacotes de partículas. Quanto mais denso melhor: mais eventos e mais surpresas. Também mais trabalho e mais difícil fica procurar a "agulha no palheiro".
Estamos vivendo um enorme otimismo científico, resultado de muito trabalho. O LHC é um instrumento tão magnífico que corresponde possivelmente a tudo que o homem pôde construir de tecnologicamente quase perfeito. Acertar um ou muitos prótons contra outros é mais do que tecnologia e ciência. Também é arte. Nem tudo é receita. Há que se usar a criatividade em certos momentos, mas para isto é claro que tem que haver uma sólida formação técnico-científica. E assim começamos a compreender o quanto não sabíamos e o quanto não sabemos e precisamos saber.
Para terminar, por favor, não me peçam para mostrar novamente quanta relação tem tudo isso com nossa vida, nosso cotidiano. Hoje quero somente o sonho dos quarks e glúons. São eles os compostos dos prótons. E são eles que estão em permanente interação. É claro que não esqueci dos léptons. Os elétrons, os neutrinos, os múons (e como tem múons), e os transmissores das interações, os chamados bósons de gauge.
Por enquanto, eles estão trabalhando e nós "fotografando" tudo para depois revelar o que eles estavam fazendo. Criando novas partículas certamente. Assim, para satisfação de todos os que trabalharam anos a fio em silêncio, agora chegou a hora da possibilidade real de ter uma resposta para suas teorias e sonhos.
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