terça-feira, 27 de maio de 2014

Físicos questionam observação que confirma expansão abrupta do Cosmo


(Folha) Pesquisadores independentes estão colocando em xeque um trabalho que causou furor há dois meses, ao supostamente confirmar que o Universo passou por um processo de crescimento acelerado durante seus primeiros instantes de vida, chegando a superar até mesmo a velocidade da luz.

A equipe do experimento Bicep2 havia anunciado a detecção desse sinal ao analisar traços específicos da radiação cósmica de fundo –uma espécie de eco do Big Bang.

Essa radiação na forma de micro-ondas foi produzida quando o Cosmo tinha apenas 380 mil anos (hoje ele tem aproximadamente 13,8 bilhões de anos). Foi nessa época, quando o material ultraquente do Big Bang começou a resfriar, que se formaram os primeiros átomos, com elétrons se ligando a prótons.

Os físicos do Bicep2, quando divulgaram seus trabalhos, em março, alegavam ter feito as mais precisas medidas da radiação cósmica realizadas até hoje. Já naquela ocasião, porém a maioria dos cientistas preferia ter cautela e esperar a confirmação dos resultados por uma análise independente feita pelo satélite Planck, da Agência Espacial Europeia.

Agora, um novo trabalho feito pelo teórico Raphael Flauger, do Instituto para Estudo Avançado, em Princeton (EUA), coloca mais lenha na fogueira. Ele sugere que os resultados do Bicep2 podem, na verdade, ter sido fruto de interferências na radiação cósmica produzidas por nossa própria galáxia.

É um processo que precisa ser feito em qualquer estudo do tal eco do Big Bang. Antes de tirar conclusões sobre a radiação que chega por todos os lados do Cosmo, é preciso subtrair, via processamento de dados, interferências produzidas pela Via Láctea e por outras galáxias.

Segundo Flauger, a equipe do Bicep2 pode ter subestimado a interferência e interpretado o que restou como sinal da inflação cósmica.

Além disso, existe uma controvérsia acerca do uso, por parte do estudo original, de um slide extraído de uma apresentação de membros do satélite Planck, que ainda não publicou oficialmente seus resultados.

Questionado pela revista "Science", o grupo do Bicep2, liderado por John Kovac, do Centro Harvard-Smithsoniano para Astrofísica, afirma que mantém suas conclusões divulgadas em março.

Apesar disso, a maioria dos cosmólogos segue em compasso de espera. "Vamos ter de aguardar uma confirmação da equipe do Planck, o que parece que vai ocorrer ainda neste ano", disse à Folha Odylio Aguiar, físico do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que não teve envolvimento nem no trabalho original, nem na suposta refutação.

A divulgação da análise independente feita com os dados do Planck é esperada para outubro. E pode ainda manter o mistério. Como o satélite europeu trabalha com mais frequências, mas menos resolução que o Bicep2, talvez não seja possível refutar ou confirmar o achado nem mesmo com esses dados.
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