terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Stephen Hawking: buracos negros não existem
(O Globo) Desde o fim dos anos 60, quando o físico americano John Wheeler popularizou o termo “buraco negro”, estes fenômenos astrofísicos entraram no imaginário popular como “monstros” cósmicos cuja gravidade é tão forte que nem a luz pode escapar. Mas poucos anos depois, em 1974, o britânico e também físico Stephen Hawking mostrou que o cenário não era bem assim. Ao aplicar os princípios da mecânica quântica aos buracos negros, Hawking revelou que eles “evaporam”, lentamente emitindo pequenas quantidades de energia na forma de uma radiação que acabou batizada com seu nome.
Isso, no entanto, gerou um novo problema. Segundo a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, um hipotético e desavisado astronauta que por acaso cruzasse o horizonte de eventos de um buraco negro, como é chamada a “fronteira” destes objetos com o espaço-tempo “normal”, não sentiria nada até que a gravidade ficasse tão poderosa que a força de atração em seus pés seria muito maior do que a sobre a cabeça, esticando-o como um espaguete, num tipo de morte que ficou conhecido como “espaguetificação”.
Mas em artigo publicado em meados de 2012, um grupo de físicos - Joseph Polchinski, Ahmed Almheiri, Donald Marolf e James Sully – propôs que a interpretação quântica dos buracos negros implica que o infeliz astronauta encontraria uma muralha de fogo no horizonte de eventos, sendo “frito” antes de ser “espaguetificado”. Isso porque, de acordo com os fundamentos da mecânica quântica, a “informação” (matéria, energia etc) sugada por um buraco negro não se perde para sempre, e à medida que ela escapa do objeto transformada na radiação Hawking “constrói” a muralha de fogo em seu horizonte de eventos.
Surgiu então o chamado “paradoxo da muralha de fogo”, pelo qual uma das teorias, ou a Relatividade ou a mecânica quântica, está errada. A conciliação entre estas duas teorias - conhecida como “teoria de tudo” ou “teoria da unificação” por unir a gravidade às outras forças fundamentais da natureza (eletromagnetismo, nuclear forte e nuclear fraca) - tem desafiado os cientistas há quase um século, mas enquanto ela não vem Hawking propôs uma nova solução para o paradoxo. E para isso ele resolveu simplesmente se livrar do conceito de que os buracos negros têm um horizonte de eventos, substituindo-o pela ideia de “horizontes aparentes” que podem capturar a luz mas também podem mudar de forma devido às flutuações quânticas, deixando aberta a possibilidade de que ela escape.
“A ausência de um horizonte de eventos significa que não existem buracos negros no sentido de sistemas dos quais a luz não pode escapar para o infinito”, escreveu Hawking em artigo publicado na semana passada no repositório online de acesso aberto “ArXiv”.
De acordo com a proposta de Hawking, o horizonte de eventos de um buraco negro pode se expandir para além do horizonte aparente quando ele consome matéria, mas, por outro lado, também pode encolher e ficar menor que o aparente à medida que o objeto “evapora” por meio da radiação Hawking. Por fim, a ideia do físico britânico implica que os buracos negros podem nem ter uma singularidade, isto é, a massa com densidade infinita que os formaria, em seu núcleo. No seu lugar, toda a matéria sugada pelo buraco negro ficaria “presa” logo atrás do horizonte aparente, sem nunca “cair” até um centro. Assim, os buracos negros seriam mais como uma prisão cósmica do que poços mortais, permitindo que a “informação” quântica continue a escapar deles na radiação Hawking, embora de forma tão caótica que seria praticamente impossível saber o que eles “engoliram”.
“Seria algo como a previsão do tempo na Terra. Não podemos prever o clima corretamente com mais do que alguns dias de adiantamento”, conclui Hawking no curto artigo, que não passou por revisão de outros cientistas e nem contém cálculos que demonstrem a sua ideia.
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