terça-feira, 13 de março de 2012

Quasares e lentes gravitacionais

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) O Universo, com alguma frequência, fornece pistas para revelar sua complexidade.

É o caso das lentes gravitacionais, previstas por Albert Einstein na teoria geral da relatividade, mas que, para o grande público sempre foi algo mais próximo da ficção.

A história de uma lente gravitacional e o quasar HE 1104-184, no entanto, é tão real quanto o Sol que desponta no horizonte leste a cada manhã.

Ainda que tenha também sua ponta de ficção.

Um artigo que saiu na edição de dezembro passado do Astrophisical Journal relata a experiência de uma equipe liderada pelo astrônomo Jose Muños, da Universidade de Valência, na Espanha, envolvendo uma lente gravitacional e o quasar HE 1104-184.

Devido à enorme distância em que se encontra do Sistema Solar o quasar só pode ser observado e investigado por efeito dessas distorções do espaço, provocadas por enormes concentrações de massa que formam uma lente natural.

Em resumo: a curvatura do espaço produzida por uma galáxia, por exemplo, faz com que essa distorção atue como lente, a exemplo das que equipam óculos convencionais, ainda que, evidentemente, muitíssimo mais poderosas.

Essa lente gravitacional amplia a imagem de corpos situados além dela, permitindo que astrônomos observem esses corpos remotos, no caso em que estamos tratando, o quasar HE1104-184.

Em princípio, por estar muito distante e, além disso, pelo fato de o espaço estar em expansão acelerada (efeito que os cosmólogos atribuem à energia escura, uma espécie de anti-gravidade) o quasar estaria para sempre fora da observação dos astrônomos.

O efeito lente faz com que essas imagens cheguem aos espelhos dos telescópios na Terra.
A magnificação produzida pela lente gravitacional foi comparada a um telescópio capaz de ampliar um grão de areia lunar e permitir que seja observado daqui.

Lentes gravitacionais, é preciso ponderar, dependem tanto do posicionamento tanto do objeto observado (o quasar HE 1104-184) quanto do corpo (provavelmente uma galáxia) que produz o efeito lente no espaço.

E também da Terra, que deve estar alinhada com os feixes luminosos desviados pela lente, do objeto observado (o quasar HE 1104-184).

Lentes gravitacionais são, realmente, construções intrigantes do ponto de vista, digamos, de “topografias” cósmicas.

Mas quasares não são menos estranhos.

Quasares, os corpos mais luminosos do Universo, são criaturas cósmicas arredias e, por isso mesmo, pouco conhecidos.

Interpretadas como núcleos de galáxias em formação, submetidos à ação de vorazes buracos negros, estão a distâncias abissais, tanto no espaço quanto no tempo.

E essa é uma das razões de termos pouca informação sobre eles.

Assim, a colaboração fortuita de uma lente gravitacional é uma espécie de pista que o Universo oferece à ciência para compreensão de sua complexidade.

Certamente a civilização humana não é a única a tirar partido dessas “coincidências”. Ainda que, por enquanto, tudo o que tenhamos não passe de suposições razoáveis e desejo de não sermos a única criatura inteligência entre as estrelas.

Não é insensato pensar que, um dia, com o “fim da infância” (como Arthur C. Clarke relata o encontro com outra civilização cósmica), lentes gravitacionais e quasares estejam entre as perguntas que faremos aos nossos possíveis visitantes.

Por enquanto, na Terra, utilizamos fortuitas lentes gravitacionais para perscrutar profundezas onde, sem ajuda, nem os olhos mais poderosos de nossos telescópios penetram.

Quanto aos quasares, já os empregamos, por exemplo, na calibragem de satélites que monitoram nossos vulgares equipamentos GPS.

Com eles um navio ou avião encontra o rumo que deve seguir no meio da noite.

E, cada um de nós, o endereço do restaurante onde pretendemos jantar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário