segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vendo o invisível


(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Em 1998 o Universo acabou. Pelo menos o que nós conhecíamos. Até então, a ideia que tínhamos era que ele teve início com o Big Bang, há uns 13 bilhões de anos, e desde então está em expansão, mas de forma a desacelerar um dia. Ou seja, após o seu nascimento, tudo o que existe no Universo passaria a atrair gravitacionalmente a matéria em expansão. Esse movimento seria freado a ponto de um dia a expansão terminar.

Nesse dia haveria três opções: se a densidade do Universo tiver um valor crítico, ele simplesmente ficaria em expansão eterna, mas cada vez mais lenta, tentando alcançar um ponto de equilíbrio estático. Mas se a densidade tiver um valor menor que esse valor crítico, estaria em expansão para sempre, sem sofrer forte desacelaração. Finalmente, se a densidade for maior que o valor crítico, a expansão sofreria forte desacelaração, a ponto de começar a se contrair e voltar a ser uma singularidade de novo.

Só que em 1998 esse cenário para o fim do Universo mudou radicalmente. Um projeto de observação de supernovas em galáxias distantes mostrou que, na verdade, o Universo está em expansão acelerada. É como se uma força interna estivesse agindo de modo a aumentar a velocidade com que as galáxias se afastam umas das outras. Um fato totalmente inesperado para as teorias da época.

Essa força misteriosa foi chamada de energia escura, e a partir de então nenhuma cosmologia pode ser escrita sem envolver essa característica. A energia escura representa mais 72% da composição do universo.

Desde então diversos experimentos foram propostos para estudar e entender a energia escura (não confundir com matéria escura), inclusive com a participação de astrônomos brasileiros. Um desses “experimentos” é o uso de lentes gravitacionais para estudar a geometria do espaço na presença dessa energia.

Um time de astrônomos internacionais analisou a luz de 34 galáxias muito distantes que foi distorcida pelo aglomerado de galáxias chamado Abell 1689. A luz dessas galáxias distantes é deformada ao passar nas imediações do aglomerado (por causa da massa do aglomerado).

Esse efeito é conhecido por lente gravitacional e pode ser visto como esses arcos nessa imagem do telescópio espacial Hubble. A maneira como a luz é distorcida evidencia como é o conteúdo, a geometria e o destino do Universo, uma vez que essas características estão todas interligadas. Por exemplo, a partir da densidade é possível determinar a geometria.

E foi isso que esse time fez usando esses arcos gravitacionais. Juntando a imagem do Hubble, com dados em raios X e micro-ondas, modelos computacionais mostram a ação da energia escura na cor azul na foto de Abell 1689.

Essa pesquisa reduziu os erros associados à medição da influência da energia escura no universo e confirmam que a geometria do universo está muito perto de ser plana. Isso significa que a densidade do universo está muito próxima da crítica, mas com a existência da energia escura, o universo deve continuar a se expandir, acelerando indefinidamente.

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