(Folha) A próxima geração de grandes telescópios será capaz de enxergar algo que, mais de uma década atrás não era especulado. Com larguras acima de 20 metros, os três maiores instrumentos ópticos em fase de projeto conseguirão ver a expansão acelerada do Universo em tempo real, afirma o trio de cientistas que recebeu o Prêmio Gruber de Cosmologia.
A honraria, concedida pela IAU (União Astronômica Internacional), acaba de ser entregue no encontro trienal da entidade, no Rio. Os ganhadores Robert Kennicutt, Wendy Freedman e Jeremy Mould, foram os escolhidos deste ano por terem conseguido determinar a idade do Universo com precisão, em 1999.
Em palestra ontem, os cientistas explicaram que seu trabalho consistiu em usar dados do Telescópio Espacial Hubble para medir distâncias entre galáxias e calcular um valor matemático chamado constante de Hubble. É o número que revela a taxa de expansão do Universo. Como já se sabia que o cosmo cresce a partir do Big Bang, astrônomos conseguiram pela primeira vez ter uma ideia mais precisa da idade do Universo: entre 13 e 14 bilhões de anos.
"Quando começamos o projeto, sabia-se apenas que Universo tinha entre 10 e 20 bilhões de anos", disse Freedman, diretora dos Observatórios da Instituição Carnegie (EUA) à Folha. Segundo os cientistas, não era só um problema de melhorar a precisão.
"Quando tínhamos esse fator de incerteza grande, alguns números de idade que estimávamos para o Universo eram mais jovens do que as idades estimadas das estrelas mais antigas da nossa própria galáxia", diz Kennicutt, da Universidade de Cambridge (Reino Unido). "Assim, nenhum dos modelos cosmológicos fazia sentido. Você não pode ser mais velho que seus próprios pais."
Hoje, após refinamentos do trabalho do trio, observou-se que o cosmo tem 13,7 bilhões de anos. É um feito digno da coroação máxima da ciência, e o prêmio Gruber tem despontado como um bom termômetro para isso. Em 2006, o vencedor da bolada de US$ 500 mil foi o cosmólogo John Matter, que no mesmo ano acabou recebendo também os cerca de US$ 1 milhão do Nobel de física.
O grande legado do trabalho de Freedman, Kennicut e Mould, porém, não será em suas contas bancárias. A determinação da constante de Hubble levou à descoberta mais importante da astronomia desde 1929, quando Edwin Hubble viu que o Universo estava se expandindo. Em uma década atrás, cientistas confirmaram que ele está expandindo de maneira acelerada.
Da luz à escuridão
O novo dado, de certa forma, foi uma consternação. Como corpos no espaço têm massa, acreditava-se que a gravidade estivesse fazendo a expansão do cosmo desacelerar. Mas uma força estranha e desconhecida, batizada de energia escura, está fazendo tudo se afastar cada vez mais rápido. Essa entidade representa cerca 70% de tudo aquilo que existe no Universo, mas ninguém sabe ainda dizer de onde ela vem.
Não há motivo para desespero, afirma Mould, da Universidade de Melbourne. É normal que uma descoberta importante acabe gerando uma outra questão difícil.
E já há uma luz no fim do túnel da energia escura. O satélite Planck, da Agência Espacial Europeia, dizem, fará medidas que ajudarão a estudar o problema. E os grandes telescópios projetados para a próxima década, como o gigantesco ELT (veja quadro à direita), darão a melhor visão da expansão acelerada do universo.
"Estão propondo um experimento, que vai levar cerca de dez anos, para medir a taxa de afastamento com que um conjunto de galáxias está se movendo para longe de nós", diz Kennicutt. "Depois de dez anos, poderemos medir isso de novo e, com a precisão desses instrumentos, veremos a mudança na taxa de expansão."
Isso seria o mesmo que ver a energia escura atuando em tempo real, meta inalcançável para os maiores telescópios de hoje- com larguras da ordem de dez metros.
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