"Decolam em maio dois telescópios que prometem revolucionar a astronomia"
(Marcelo Gleiser - Folha) Estamos prestes a ver detalhes da criação do cosmo. Parece pseudociência mas não é. Dia 6 de maio, um foguete Ariane-5 da Agência Espacial Europeia decolará com uma carga preciosa: o telescópio de infravermelho Herschel e o telescópio de micro-ondas Planck, que prometem revolucionar nosso conhecimento do Universo. Nada mais apropriado para o Ano Internacional da Astronomia.
O Herschel, batizado em homenagem ao astrônomo que descobriu Urano, em 1781, terá um espelho de 3,5 metros de diâmetro, o maior já posto em órbita. Como comparação, o espelho do famoso Telescópio Espacial Hubble tem 2,4 metros. Entre outras coisas, seu objetivo é capturar a radiação emitida por objetos extremamente distantes, as primeiras galáxias e sua subsequente evolução.
Vale lembrar que, em astronomia, quanto mais distante o objeto, mais antigo ele é. Isso porque a luz emitida por uma estrela ou por uma nuvem de gás precisa viajar até nós, o que toma tempo. Mesmo que a luz e todos os outros tipos de radiação eletromagnética viajem à incrível velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, as distâncias cósmicas são tão imensas que a luz leva tempo para viajar de uma fonte até nós. O Sol, por exemplo, está a 8 minutos-luz de distância da Terra: a luz demora 8 minutos de lá até aqui.
Andrômeda, a galáxia mais próxima de nós, está a 2 milhões de anos-luz: a luz que vemos agora saiu de lá há 2 milhões de anos. Portanto, olhar para o espaço é viajar para o passado, a única máquina do tempo que conhecemos. Quanto mais poderoso o telescópio, mais no passado mergulhamos.
O telescópio Herschel será capaz de captar a radiação vinda das primeiras estrelas, formadas milhões de anos após o Big Bang, o evento que marca a origem do Universo. Será, também, capaz de estudar o nascimento de estrelas mais recentes, juntamente com os seus planetas. Portanto, veremos o nascimento de outros sistemas estelares, aprendendo como o nosso próprio Sistema Solar nasceu.
Ao vermos outras estrelas nascerem, aprendemos sobre as nossas origens. Como informação complementar, o Herschel analisará também a composição química desses berços estelares, bem como de nuvens de matéria espalhadas pelo cosmo.
Se somos formados de poeira das estrelas - nosso carbono, ferro e oxigênio são restos de explosões estelares que ocorreram há bilhões de anos - poderemos compreender como essa poeira é formada e espalhada pelo espaço sideral. Não veremos a nossa Terra nascer, mas veremos outras.
A missão Planck nos remete ainda mais para o passado cósmico. Seus detectores serão capazes de captar com precisão dez vezes maior do que a de missões anteriores o eco da primeira radiação liberada no Universo, datando do nascimento dos primeiros átomos, 380 mil anos após o Big Bang.
Imagine um termômetro com precisão de um milionésimo de grau. Com isso, astrônomos e cosmólogos poderão estudar como as maiores estruturas cósmicas foram formadas - berços não de estrelas, mas de galáxias.
Mas o Planck irá ainda mais longe. Uma das predições da cosmologia moderna é que o cosmo-bebê, com apenas um trilionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo de idade (10-36 segundo), se expandiu violentamente, a chamada fase "inflacionária" .
Se isso ocorreu, e os dados que temos indicam que sim, existem sinais que o Planck poderá captar. Os detalhes desses sinais e de suas consequências deixo para a semana que vem. E pensar que são apenas 400 anos desde que Galileu apontou um telescópio pela primeira vez aos céus.
Poucos testemunhos da inventividade humana são tão impressionantes.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
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